Passamos a vida vendo a nós mesmos e
aos outros apenas parcialmente, e sendo vistos apenas parcialmente por
eles. Quando nos apaixonamos, temos a esperança – tanto egoisticamente
quanto altruisticamente – de que seremos, finalmente, verdadeiramente
vistos: julgados e aprovados. É claro que o amor nem sempre traz
aprovação: ser visto pode muito bem levar a uma não aceitação e a uma
temporada no inferno (…) Antigamente, nós nos consolávamos dizendo que o
amor humano, mesmo que breve e imperfeito, era apenas um aperitivo da
visão maravilhosa e perfeita do amor divino. Agora ele é tudo o que
temos, e precisamos nos contentar com nosso status rebaixado. Mas ainda
ansiamos pelo consolo, e a verdade, de sermos vistos de forma completa.
Isso daria um bom final, não daria?
Julian Barnes, no livro “Nada a Temer”
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